O preço do carbono e o valor do clima

30/10/2025

Lucas Cavicchioli

Por que o carbono deve ter um preço? Porque o clima tem valor.

Por décadas, a atmosfera foi tratada como um bem comum infinito, um repositório gratuito para as emissões de gases de efeito estufa. No entanto, a ciência nos mostra com clareza crescente que essa premissa é uma ilusão perigosa. Cada tonelada de dióxido de carbono (CO₂) liberada hoje gera uma cadeia de consequências de longo prazo, que se estende por gerações futuras. Esses impactos incluem desde o agravamento de doenças respiratórias e a insegurança alimentar provocada pela perda de colheitas até o colapso de ecossistemas inteiros e a intensificação de eventos climáticos extremos.

Neste contexto, a pergunta central que se impõe é: como quantificar esse custo difuso, porém monumental?

O Custo Invisível das Emissões

Apesar de não aparecer nas planilhas corporativas ou nos orçamentos governamentais, o custo invisível das emissões é real e substantivo. Ele se materializa em sistemas de saúde sobrecarregados, em perdas agrícolas bilionárias, na destruição de infraestruturas críticas e na erosão do capital natural do planeta.

O Custo Social do Carbono (CSC) emerge como a ferramenta capaz de dar visibilidade a essa realidade. Desenvolvido pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), o CSC quantifica monetariamente os danos sociais, ambientais e econômicos associados à emissão de uma tonelada adicional de CO₂.

Mais do que um índice econômico, o CSC é um instrumento de justiça. Ele revela que o carbono é um vetor de desigualdades, cujos impactos recaem de forma desproporcional sobre as populações mais vulneráveis. Reconhecer este custo é o primeiro passo para corrigir uma das maiores falhas de mercado da nossa era: a externalização de danos ambientais e sociais.

O Valor em Ascensão: A Conta que Não Para de Crescer

Pesquisas recentes conduzidas pela própria EPA indicam que o Custo Social do Carbono já ultrapassa a marca de US$190 por tonelada. Este valor, significativamente maior do que as estimativas anteriores, reflete uma compreensão mais apurada dos danos de longo prazo e sinaliza uma conta global em acelerada expansão.

Esta métrica fornece um sinal econômico incontestável: a poluição carbono possui um custo real que deve ser internalizado por empresas e governos. Ao incorporar o CSC em suas análises de custo-benefício e na formulação de políticas, os tomadores de decisão passam a reconhecer que toda atividade produtiva carrega um impacto coletivo que não pode mais ser ignorado.

Da Teoria à Prática: A Reconciliação entre Economia e Ecologia

Precificar o carbono é a ponte que permite à economia se reconciliar com a ecologia. É o mecanismo que sinaliza para o mercado a necessidade de uma transição para modelos de negócio e desenvolvimento de baixo carbono. Esse é, indiscutivelmente, o ponto de partida para políticas climáticas eficazes e baseadas em evidências.

No Centro de Pesquisas Itaqui, acreditamos que compreender e debater o custo invisível das emissões transcende um mero exercício econômico. É, antes de tudo, uma forma de colocar a natureza, a ciência e a justiça no centro das decisões que moldarão o nosso futuro comum. Internalizar este custo não é apenas tecnicamente necessário; é uma obrigação ética com as gerações presentes e futuras.

"O carbono sempre teve um preço. A diferença é que, agora, estamos começando a enxergar a fatura que o planeta vem pagando."